domingo, 10 de janeiro de 2010

O lado de lá da porta

As pessoas que amamos nunca deixam realmente a nossa vida. Ficam apenas do outro lado da porta à espera. À espera que a raiva passe, ou o remorso ou a culpa ou simplesmente o amor. Ficam à espera que mudes a casa, que alteres as cores da tua vida e que qualquer dia estejas pronta para voltar a entrar. As pessoas que amamos nunca vão realmente embora. Conhecem outras pessoas, mudam o corte de cabelo, passam férias em sítios exóticos, mas nunca deixam a tua porta. Estão lá sentados, cansados, ansiosos. E nós estamos do lado de cá, a tentar mudar a casa, a alterar as cores da nossa vida, a conhecermos novas pessoas, a mudarmos o visual, a passarmos férias em sítios frios. Mas ficamos sempre por perto da porta, à espera que eles voltem a entrar. À espera que os assuntos impossíveis de resolver com a outra pessoa se resolvam, por cansaço, esquecimento ou pelo tempo. Dizem que o tempo resolve tudo e duas pessoas que se amam ficam de cada lado de uma porta à espera que o tempo resolva o que não foram capazes.
E não é que às vezes resolve?
Um dia a tua casa está totalmente remodelada e encontraste a felicidade novamente e tens coragem de abrir a porta e ver como ele se safou. Ou então ele já viveu muitas coisas novas e encontrou de novo a felicidade e abre a porta com curiosidade em saber como te safaste. E então estão de novo frente a frente, sem a porta, e tudo parece bem. Olhas para ele e ficas impressionada com as diferenças: ele cortou o cabelo (- Não te disse sempre que ficava melhor mais comprido?), conta novas aventuras (- Mas agora andas à porrada?) e fala de novas pessoas (- Já vão fazer 6 meses?). E no fim percebes que ele continua igual: deixa cair as luvas sem dar conta (mas és sempre tão distraído?) e quando pegas nelas percebes que são umas que lhe deste já há muito tempo. Nunca deixei a vida dele nem ele deixou a minha, estivemos só de cada lado de uma porta à espera que o tempo passasse e nos levasse a paixão, a revolta, os sonhos desfeitos, a teimosia e deixasse apenas aquilo que temos de mais valioso e sincero: a nossa amizade.
As pessoas que amamos nunca deixam realmente a nossa vida. E o amor que sentimos por elas nunca se esgota, transforma-se. E os problemas que tiveste com elas são sempre ultrapassáveis. E há sempre um dia em que acordas e percebes que por muito que as pessoas que amas mudem, nunca deixam de ser as tuas pessoas e pertencer ao teu dia-a-dia. Afinal nunca vão mais longe do que o lado de lá da tua porta.
Em memória do dia em que olhei para ti e senti uma enorme paz ao sentir que reencontrei um velho amigo. Que afinal nunca saiu do lado de lá da porta.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

De que cor são os teus olhos?

Olho-te com cuidado, de novo. Perece que se não olhar com tanta delicadeza e demora te vais esvanecer. Como um sonho. Como um sonho emerso da profundidade dos meus mais íntimos desejos.

De que cor são os teus olhos?

Os teus olhos são da cor da esperança. Fazem-me acreditar em um qualquer significado cósmico, inatingível do amor. Fazem-me acreditar que não há uma razão; um motivo lógico e bem estudado para o tanto que os teus olhos brilham na minha presença. E para o tanto que a minha pele se arrepia ao teu toque. E para o enorme rodopio em que descubro as borboletas do meu estômago sempre que te declaras. Tu fazes parte do meu imaginário. Fazes parte dos desejos de criança ou então não tens nada a ver com o que alguma vez desejei que fosses. Tens tudo a ver com aquilo que desejo sentir, longe do tempo, lugar ou situação apropriada. És exactamente igual ao que eu desejo hoje, no nosso presente, longe dos clichés e do que deveria ser. Longe dos pormenores ou insignificâncias. Hoje és aquilo que desejo. Hoje és aquilo que preciso. Não quero saber da tua disponibilidade horária, do momento em que chegaste, de quem já magoaste antes. No mais natural e espontâneo de mim tu és a perfeita metade que me faltava, tu és quem tenho andado a evitar por me sentir incapaz de senti-lo. Hoje, aquilo que realmente sou espera ansiosamente por ver-te sorrir de novo e dar-me a mão com firmeza. Hoje apenas quero saber da vontade de estar ao teu lado. E da vontade de pertencer à tua vida. Hoje, somos apenas nós, eu e tu, a construir o nosso caminho.

De que cor são os teus olhos?

Os teus olhos são da cor do inesperado, do desconhecido. São da cor do futuro incerto, do caminho a percorrer.

De que cor são os teus olhos?

Olhei de novo a tentar perceber. Acho que coincidem com a cor da minha alma. Sim, tenho quase a certeza disso.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Secret Smile

Provei a loucura contigo. Vi as amarras do bom senso serem cortadas, vi a bolha do politicamente correcto rebentar, vi o mundo mover-se de forma distorcida à tua volta. No turbilhão que invadiu a tua vida vi a única preocupação da minha vida. Tu perdeste a cabeça e eu perdi a minha a tentar salvar a tua. Depois Já não sabia quem precisava de salvação.

Mais tarde caí eu numa espiral de loucura poço abaixo, mas no fundo quando é que não somos loucos?

Ninguém sabe mas tens um sorriso secreto e usa-lo apenas para mim.

Quem é que salvou quem quando a loucura nos tomou? Estamos salvas agora?

Ninguém sabe mas tens um sorriso secreto e usa-lo apenas para mim.

Consumo-me de preocupação a cada passo que dás e a cada momento de raiva corresponde um momento de revelação. Estás entranhada em cada pedaço meu. Vivo de ti.

Ninguém sabe mas tens um sorriso secreto e usa-lo apenas para mim.

Cada momento que vivo, vivo também por ti. Se és a minha Pessoa em que momento nos dissociamos?

Ninguém sabe mas tens um sorriso secreto e usa-lo apenas para mim.

Perdi o momento em que tudo começou. Que sentido tem procura-lo se me parece que vivemos juntas toda a vida?

Se vimos o pior que podíamos ver uma na outra como poderíamos continuar se não estivéssemos estado sempre juntas?

Ninguém sabe mas tens um sorriso secreto e usa-lo apenas para mim.

E ninguém sabe que és louca e que eu sou louca.

Ninguém sabe mas tens um sorriso secreto e usa-lo apenas para mim.

Então usa-o. Preciso de me ver sorrir de novo.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Romantismo e outras considerações

Romântica? Às vezes duvido que realmente o sou. Talvez porque não acredito no amor à primeira vista.

Não acredito que alguém me faça contar a minha vida toda apenas com um olhar. Não acredito em toda aquela visão idílica de como é fácil apaixonarmo-nos e em como dois segundos podemos encontrar o amor da nossa vida. Muito sinceramente, adoraria que assim fosse. E tal como nos poemas ficar deslumbrada com o simples passar de um rapaz com quem nunca falei. Gostava de encontrar semelhanças em um agradável rapaz por quem passei na rua… mas o que sempre soube é que o amor não é fácil. Por isso não acredito na versão simplista do amor à primeira vista. O meu amor não é a primeira vista, nem à 2ª nem 3ª nem mesmo a 10ª e se calhar nem à vista é. Ao contrário de todas as românticas afortunadas eu preciso de várias conversas desinteressantes até encontrar alguma que me surpreende. E não, um dia não resolve um assunto. Talvez seja demasiado racional, como já me disseram. Não duvido que seja verdade. Porém não imagino partilhar a minha vida com um estranho bem-parecido. Namorar é uma mistura complexa entre as nossas hormonas e a nossa necessidade de ter um companheiro na nossa vida. Alguém que nos compreenda, alguém que nos mostre o mundo. E isto não é oferecido necessariamente por quem nos faz subir os calores. Desculpem mas a realidade é esta: ficamos com alguém por aquilo que nos transmite e por aquilo que partilhamos com ela, não porque tem um sorriso fantástico. O sorriso torna-se fantástico depois de ela entrar na tua vida e terá um brilho diferente para ti do que para qualquer outro ser humano. E isso sim é especial. A avassaladora onda de felicidade e duvida que invade a tua vida. Demoras a saber se é a pessoa certa. Cada passo inicial é dado como se fôssemos um bebé a descobrir o mundo para além do berço. Ninguém pode ter a certeza ao início. Isso é outra ideia romântica que nunca compreenderei. Como é que o amor pode dar tantas certezas a alguém? Como podes saber exactamente onde começou e onde acabou? Com tantas dúvidas talvez não acreditem na romântica que sou. Mas sou-o. Acredito que o amor pode realmente mudar alguém e que é a coisa mais bonita que alguém já sentiu. E acredito que é avassalador, imenso, incontrolável. O mundo muda de configuração quando amas e os opostos já não te parecem assim tão opostos e as semelhanças surgem de recantos esquecidos nos quais nunca reparaste. De repente, as pessoas têm outro brilho e o tempo outra orbita quando estas com ele/a.

Eu acredito em isso tudo, mas não acredito que seja completamente ao acaso. E não acredito nos poemas e nos romances em que surgem príncipe encantados a cavalo. Eles nunca aparecem assim, eles transformam-se no momento em que lhes abres a porta.

domingo, 11 de outubro de 2009

Feels like home

Se parares para pensar, o que é a tua casa? O que a constitui para que a identifiques como a tua casa? Nos inúmeros momentos da vida em que não queres parar em casa porque é que voltar sabe sempre tão bem? No fundo, porque é que todos precisamos de um sitio ao qual chamar casa?
Penso que uma das coisas mais importantes é a segurança. Aquele sentimento de reconhecimento mútuo entre ti e o teu sofá, entre o teu corpo e a curvatura do teu colchão, entre a tua varanda e os teus momentos de solidão. Parece que tudo foi feito à tua medida e que cada peça da tua casa tem um lugar e significado na tua vida. No fundo, é como um puzzle, cada peça tem que estar exactamente naquele lugar e posição e mesmo que não repares nela, se ela não estivesse exactamente onde deveria estar tu notavas a diferença. É estranho reparar nesta importância da tua casa, mas se não fosse assim que sentido teria a vida? Para onde deverias voltar sempre que partisses? Não ter um porto onde atracar não será das coisas mais assustadoras do mundo?
Todos os dias volto para casa à procura do conforto do meu quarto. Mas o mais importante é olhar para a porta mesmo ao lado da minha e ver aquele ser agarrado ao comando. Às vezes o dia faz sentido só e por todo esse momento. Amo-o como nunca saberei amar mais nada nem ninguém. Corre-me nas veias o seu cheiro, a sua voz, o seu respirar à noite, o seu grito de dor. Corre-me nas veias os seus erros mais comuns, as suas inseguranças, a sua sede de crescer. É indissociável da minha condição de viver. Para qualquer lado que vou arde-me sempre nas veias a responsabilidade, a protecção, o carinho; e tenho de voltar. Para mim a minha casa será sempre o sítio onde ele estiver, ou melhor, o sítio onde poderei encontra-lo e sossegar o meu coração. Casa é o espaço onde crescemos juntos, onde eu lhe ensinei a falar, onde eu lhe apresentei o mundo, onde nós conquistamos uma relação. Casa será sempre o espaço, real ou imaginário, onde estamos juntos. O que é uma casa afinal se só tiver paredes e coisas, sem pessoas, sem ele? É apenas um local, um amontoado de possíveis peças de algum puzzle.
És tu que completas o meu puzzle, meu irmão.

domingo, 6 de setembro de 2009

Carta ao meu futuro namorado

Meu futuro namorado,
Onde quer que estejas agora e seja quem for quem tu procuras, aviso-te já que nunca serei tarefa fácil. Primeiro porque, ao inicio, tenho a mania de complicar as coisas e de ser muito pouco explicita quanto aquilo que quero. Terás de recorrer a artes mágicas de adivinhação bem como a um estudo aprofundado das minhas expressões faciais se quiseres perceber o que eu sinto. E terás de ser dotado de uma grande dose de coragem para persistires quando não fizeres ideia do que estou a pensar. Posso parecer bastante dura e decidida mas no fundo tenho um coração de manteiga que se derrete com muito pouco, há que saber dar-me a volta. E às vezes basta uma piada no momento certo ou um comentário provocador para me dar a referida volta. Tudo com moderação, senão pode não correr bem.
À parte isto, e porque não quero assustar-te à partida, há muita pouca coisa que tenha a pedir-te. Saberás logo o quanto gosto de dançar e se isso não é definitivamente a tua praia escusas de vir comigo para a discoteca servir de bengaleiro (para o copo, claro). Compreende apenas que isso me faz muito bem. E quanto às minhas aulas, finge interesse quando te contar entusiasmada os meus progressos, caso contrário ficarei muito amuada. Quanto aos teus amigos, por favor não os abandones, não lhes dês demasiadas tampas e apresenta-mos o mais cedo possível. O que mais detesto são amigos ressentidos e namorados colas. Tenta evitar as vossas piadas porcas no início do namoro porque pode pôr-me em dúvida, depois já nada me afectará. Quanto aos meus amigos, estás proibido de ter ciúmes dos meus amigos rapazes e queria (mesmo!) muito que os adorasses rapidamente; e quanto às raparigas sê o mais cordial possível, mas não abuses, percebe primeiro com quem estás a lidar. Tens de aceitar as minhas atitudes extremamente lamechas e maternais com eles e aturar as minhas indignações. Nunca demonstres estar cansado de me ouvir.
Quanto à minha mãe, se ela te adorar, vai desdobrar-se em sorrisos sempre que te vir, se não gostar, vai-me dar na cabeça o tempo todo. Não sei bem o que tens de fazer para a contentar, mas lembra-te quando os teus pais te obrigavam a seres simpático com os teus avôs e nunca resmungares, e faz mais ou menos igual.
Quanto a mim, especificamente, há algo que tens que aprender o mais rápido que conseguires: se estou perturbada há três atitudes possíveis a tomar. Insistires para que te conte e ouvires-me enquanto desabafo, dares-me espaço e falares-me de coisas banais que me possam distrair ou mandares uma piada ou teres uma tirada romântica e encheres-me de beijinhos em seguida. O que tens de aprender é qual destas três opções seguires de cada vez que não te pareço bem. Boa sorte! Além disso, percebe que só não vou fazer por ti o que não puder e que fujo com frequência a confrontos, apesar de achar as discussões saudáveis. Discute comigo sempre que te apetecer.
O que me faz feliz? Muito daquilo que te fizer. Acho que juntos encontraremos o que nos faz feliz, porque numa relação não deve ser valorizado o eu e o tu.
O mais importante de tudo? Não quero saber se és mais alto ou mais baixo do que eu, se estás prestes a ser um doutor ou se a escola não é para ti, se te mexes lindamente ou se és um pé de chumbo, se queres ser pai ou não suportas crianças, etc, etc. Por muito que me preocupe com isso agora, quanto te encontrar não me vai importar. Apenas vou querer saber se o meu coração bate mais forte quando chegas e se navego para outra dimensão quando me dás a mão.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

É Verão e eu cresci!

Doce encanto em que sorris. Mentes? Navego na tua imensidão tentando juntar as peças do teu puzzle. A cada peça que junto pareces-me subir mais e mais em direcção a um qualquer céu estrelado onde te possas sentir entre iguais. Queria eu, na minha singular concha imperfeita, compreender a tua visão desfocada do meu mundo construído a fita métrica. Queria que fizesses um pouco mais de sentido ou então que não deitasses por terra o meu dominó perfeitamente alinhado.
Não caminhamos pelo mesmo passeio, e nem encontramos os mesmos rostos ocasionais, por vezes duradouros. Porém, nunca ninguém me tinha feito arregalar os olhos e aventurar-me por um mar impreciso da mesma maneira que tu. Nem sentar-me no recanto mais seguro e inalterável e sentir-me inquieta e mudada. Fazes parte do tempo em que eu cresci. Fazes parte da atmosfera em que tomei consciência que a minha velha jornada tinha terminado. Fazes parte do mundo que atingi como adulta. E apesar disso, estás tão longínquo e inacessível como aquela nuvem ao largo da costa. Pertences a um sonho que se esfuma cada vez que tento tocá-lo, pertences a uma frequência diferente, tens um qualquer halo perfeito a proteger-te da banalidade. E eu sinto-me pequena, diferente, estranha, como se fosse uma injustiça sentir o teu olhar queimar-me suavemente e deixar-me tonta, descontrolada, como se dançasse no meio da praia sem ninguém me ver. Desafiaste tudo aquilo que era, todas as verdades em fundamento e nunca mais poderei voltar aquele dia em que te vi pela primeira vez e te achei pequeno, diferente, estranho, e voltar a ser a mesma menina. Cresci dois metros sempre que te tive por perto. Estive ao teu lado em tantos locais. E mesmo assim olho para cima e não te consigo atingir. Sou tão pequena.